
Neste artigo
- Introdução
- Origens e Significados de Dussehra
- Por Que Há Confusão Entre Os Nomes?
- Dussehra nas Escrituras e nas Tradições Sagradas
- Dussehra: Diversidade e Celebrações Regionais
- Rituais Mais Importantes de Dussehra
- Curiosidades Fascinantes sobre Dussehra
- Conclusão
- Perguntas Frequentes : Dussehra
- Qual é a diferença entre Dussehra e Vijayadashami?
- Dussehra marca o fim de Navratri?
- Por que Ravana é queimado em Dussehra?
- O que acontece durante Vijayadashami em Durga Puja?
- Por que Vijayadashami é considerado um dia muito auspicioso?
- O que é Sindoor Khela?
- Como o festival é comemorado no Sul da Índia?
- Estrangeiros costumam confundir Dussehra e Vijayadashami. Por quê?
Introdução
O festival de Dussehra, também conhecido como Vijayadashami, é um dos mais marcantes da Índia. Celebrado em todas as regiões do país com grande alegria, devoção e simbolismo, ele representa a vitória do bem sobre o mal, da luz sobre a escuridão e do dharma sobre o adharma.
Mais do que uma festa religiosa, Dussehra é um reflexo da identidade cultural indiana: um evento que une lendas, teatro, espiritualidade, música, artesanato, fé coletiva e a profunda herança épica.
Origens e Significados de Dussehra
Etimologia e Conceito
A palavra Dussehra vem do termo sânscrito Dasha-Hara, que significa “a derrota dos dez” — referência direta à queda de Ravana, o rei-demônio de dez cabeças, símbolo dos dez vícios humanos como raiva, inveja, orgulho e ignorância. Esse festival, celebrado sobretudo no Norte da Índia, lembra a vitória de Rama conforme narrado no Ramayana.
Já o nome Vijayadashami, usado amplamente no Sul e no Leste da Índia, combina Vijaya (vitória) e Dashami (décimo dia). É o décimo dia que marca o fim de Navratri e Durga Puja, encerrando nove dias de devoção à Deusa.
Embora celebrados no mesmo dia, Dussehra e Vijayadashami têm origens e ênfases diferentes, mas compartilham a mesma mensagem essencial: o triunfo do dharma — justiça, virtude e equilíbrio — sobre forças que trazem caos, ignorância e desequilíbrio. É uma celebração externa e interna, um lembrete anual de que o bem pode e deve prevalecer.
A Data e o Calendário
Dussehra é celebrado no décimo dia do mês lunar de Ashwin (setembro–outubro), segundo o calendário hindu. Esse dia marca:
o encerramento de Navratri, nove noites dedicadas à energia feminina divina (Shakti), em suas formas Durga, Lakshmi e Saraswati;
o início de um período extremamente auspicioso no calendário hindu, considerado ideal para novos começos, aprendizado, compras importantes, abertura de negócios, cerimônias familiares e rituais de bênção.

Por Que Há Confusão Entre Os Nomes?
Para quem não nasceu na Índia — inclusive muitos brasileiros — os termos Dussehra e Vijayadashami costumam parecer dois festivais diferentes. Mas, na verdade, ambos se referem ao mesmo dia do calendário hindu, embora com ênfases culturais distintas.
A confusão surge porque o festival é celebrado de maneiras muito diferentes em cada região da Índia.
No Norte, o dia é chamado Dussehra, e sua narrativa central é a vitória de Rama sobre Ravana, conforme o épico Ramayana. As celebrações costumam incluir grandes Ramlilas e a queima dos imensos bonecos de Ravana.
Já no Sul e no Leste, o mesmo décimo dia de Ashwin é conhecido como Vijayadashami, marcado sobretudo pelo encerramento de Navratri e Durga Puja, a vitória da deusa Durga sobre Mahishasura. É também um dia extremamente auspicioso para novos começos, como o ritual infantil Vidyarambham nos templos.
Em resumo:
É o mesmo dia, mas com nomes diferentes e histórias celebradas de maneiras distintas.
Por isso, estrangeiros acabam confundindo os dois termos — e está tudo bem. Entender ambas as perspectivas revela a riqueza cultural que faz da Índia um mosaico de tradições interligadas, porém únicas.
Dussehra nas Escrituras e nas Tradições Sagradas
A Vitória de Rama sobre Ravana
A narrativa mais celebrada no Norte da Índia vem do épico Ramayana.
Segundo a tradição:
Sita, esposa de Rama, é raptada por Ravana, rei de Lanka.
Após uma busca intensa e uma guerra épica, Rama derrota Ravana com a ajuda de Hanuman e seu exército de vanaras.
Essa vitória é celebrada como Dussehra, simbolizando a vitória do dharma.
Por isso, em muitas cidades indianas, enormes bonecos de Ravana, Kumbhakarna e Meghnath são queimados em grandes campos, acompanhados por fogos de artifício.

O Triunfo de Durga sobre Mahishasura
A narrativa mais celebrada no Leste da Índia vem de Durga Puja.
Segundo a tradição:
Durga trava uma batalha de nove dias contra o demônio-búfalo Mahishasura.
No décimo dia, ela o derrota, marcando a vitória do bem sobre as forças do caos.
As imagens da deusa, preparadas com grande devoção durante todo o festival, recebem a última reverência no décimo dia.
Em seguida, são conduzidas em procissões vibrantes até o rio para o ritual de imersão, o visarjan.
Esse ato simboliza o retorno de Durga à sua morada celestial e encerra o festival com um profundo sentido de renovação espiritual.

A História de Arjuna e a Guerra do Mahabharata
Outra tradição ligada ao festival é:
O dia em que Arjuna, oculto no reino de Virata, recupera suas armas escondidas e vence uma guerra.
Por isso, Vijayadashami é considerado extremamente auspicioso para começar atividades profissionais, estudos ou artes marciais.

Dussehra: Diversidade e Celebrações Regionais
Uttar Pradesh: O Coração Vivo da Ramlila (Varanasi e Ayodhya)
Em Uttar Pradesh, o festival ganha uma intensidade única. Varanasi realiza algumas das Ramlilas mais antigas e tradicionais da Índia, com encenações que duram dias e atraem multidões de peregrinos. Já Ayodhya, a cidade natal de Rama, transforma-se em um imenso palco espiritual: ruas iluminadas, cânticos contínuos e cerimônias à beira do Sarayu criam uma atmosfera quase mística. Em ambos os lugares, a queima das efigies de Ravana assume um simbolismo especial, celebrando a vitória de Rama no próprio solo que lhe é sagrado.
Bengala Ocidental: A Grande Despedida de Durga
Em Bengala Ocidental, Vijayadashami é o dia da grande despedida. É quando ocorre o visarjan, o momento solene em que as magníficas imagens de Durga — preparadas com extremo refinamento artístico ao longo de semanas — são levadas para imersão nos rios. Antes da procissão final, as mulheres realizam o tradicional Sindoor Khela, aplicando vermelhão umas nas outras como expressão de prosperidade e proteção. A despedida da deusa combina emoção e beleza, marcando o encerramento do Durga Puja e simbolizando seu retorno à morada celestial.

Himachal Pradesh: Kullu Dussehra
Em Kullu, no Himachal Pradesh, o Dussehra segue um ritmo único no país: ele não termina no décimo dia — ele começa ali. Durante uma semana inteira, o vale se transforma num grande encontro espiritual, reunindo milhares de pessoas e dezenas de divindades locais. Os devtas, acompanhados por músicos e guardiões, chegam em procissões vibrantes vindas de vilas remotas das montanhas, criando um espetáculo de cores, tambores e devoção.
O ponto alto acontece no final da semana, quando ocorre o Lanka Dahan, a queima de uma imensa estrutura simbólica de madeira que representa Lanka, marcando a destruição do mal. Ao contrário de outras regiões, aqui não se queimam bonecos de Ravana — a celebração valoriza o encontro entre as divindades e o espírito comunitário do vale. É uma versão profundamente regional do festival, moldada pela cultura montanhosa e pelas tradições espirituais únicas de Kullu.
Mysore Dasara (Karnataka): Majestade Real
Em Karnataka, Mysore Dasara é celebrado com uma grandiosidade que remete diretamente ao esplendor dos antigos reinos do sul da Índia. O Palácio de Mysore torna-se o coração das festividades, iluminado por cerca de 100 mil lâmpadas, criando um cenário cintilante que atrai visitantes de todo o país. No décimo dia, uma imponente procissão real percorre as ruas, com elefantes ricamente decorados, guardas cerimoniais, músicos e dançarinos tradicionais. Ao longo dos dias, a cidade se transforma em um grande palco cultural, com concertos de música clássica, apresentações folclóricas, exposições de arte e competições que celebram o patrimônio histórico e artístico da região. É uma festa que combina devoção, realeza e tradição em uma atmosfera verdadeiramente majestosa.

Maharashtra e Goa
Em Maharashtra e Goa, o festival é conhecido como Dasara e carrega um caráter profundamente cultural e simbólico. Aqui, a devoção à Deusa assume formas variadas, desde visitas matinais aos templos até rituais domésticos que pedem proteção e abundância para o ano seguinte. Um dos momentos mais especiais é o Ayudha Puja, quando ferramentas de trabalho, veículos, livros, instrumentos musicais e objetos profissionais são limpos, decorados e reverenciados como símbolos de sustento e conhecimento — um gesto que conecta espiritualidade ao cotidiano.
Outro costume marcante é a troca das folhas de apta, chamadas de “ouro” simbólico. Famílias e vizinhos oferecem essas folhas uns aos outros com votos de prosperidade, fortuna e bons começos. Em muitas cidades, ruas ficam tomadas por procissões, tambores dhol-tasha e danças tradicionais, criando uma atmosfera vibrante que mistura fé, música e comunidade. Dasara, nessa região, não é apenas um festival religioso — é um momento de união, agradecimento e esperança renovada.
Tamil Nadu e Andhra Pradesh: Golu
Nessa região, o décimo dia de Navratri é marcado pelo encantador ritual do Golu, no qual as famílias montam escadas decorativas repletas de bonecos tradicionais. Cada degrau exibe miniaturas que retratam cenas mitológicas, animais, danças folclóricas, divindades e momentos da vida cotidiana. Mais do que um enfeite, o Golu é considerado uma celebração de criatividade, preservação cultural e aprendizado espiritual, onde adultos e crianças participam juntos na construção desse universo simbólico.
Rituais Mais Importantes de Dussehra
Ramlila
A Ramlila é uma das tradições mais marcantes do Dussehra: uma encenação teatral ao ar livre que dramatiza o Ramayana ao longo de vários dias. Em palcos montados em praças, escolas e campos abertos, atores — muitas vezes crianças e jovens da própria comunidade — interpretam as principais passagens da vida de Rama, desde o exílio até a derrota de Ravana. As apresentações misturam música, diálogos, trajes vibrantes e efeitos pirotécnicos simples, criando um espetáculo popular e participativo. Em cidades como Varanasi e Delhi, a Ramlila atrai multidões e funciona como um elo cultural que transmite valores, mitos e identidade.

Queima de Ravana
A queima de Ravana é o momento mais aguardado de Dussehra em muitas regiões da Índia. Ao anoitecer, enormes efígies de Ravana, Kumbhakarna e Meghnath são erguidas em campos abertos, decoradas com tecidos coloridos e recheadas de fogos de artifício. Quando Rama “dispara” a flecha simbólica, as figuras gigantes explodem em labaredas e brilho, iluminando o céu e arrancando aplausos da multidão. O ato representa a destruição do ego, da ilusão e das forças negativas. Para muitos, assistir à queima é uma catarse coletiva, um lembrete visual e poderoso de que o bem sempre triunfa — cedo ou tarde.
Ayudha Puja
Ayudha Puja é um dos rituais mais significativos do período de Dussehra, dedicado a honrar tudo aquilo que sustenta o trabalho, o estudo e a criatividade humana. Ferramentas, instrumentos musicais, armas, livros, computadores e até veículos são cuidadosamente limpos, decorados com flores, folhas de manga e kumkum, e então abençoados perante a divindade. Estudantes agradecem pelos livros, artesãos pelos instrumentos, profissionais por suas ferramentas, enquanto empresas realizam cerimônias coletivas. A essência do ritual é simples e profunda: reconhecer que nenhum sucesso é alcançado sozinho, mas com a ajuda dos instrumentos que moldam a vida cotidiana.

Shami Puja
O Shami Puja tem origem no episódio do Mahabharata, quando Arjuna escondeu suas armas na árvore Shami durante seu período de exílio. No dia de Vijayadashami, ele retornou para recuperá-las, iniciando assim uma nova fase de vitória. Por causa desse simbolismo, o ritual representa força renovada, retomada de poder e bons começos. Famílias reverenciam ramos da árvore Shami como um gesto de proteção, coragem e sucesso para o ciclo que se inicia.
Vijayadashami
Vijayadashami é considerado um dos dias mais auspiciosos de todo o calendário hindu, marcado como o momento ideal para iniciar qualquer atividade que se deseja ver florescer. Em muitas famílias, este é o dia escolhido para começar aulas de música, dança, artes marciais ou estudos formais. No Sul da Índia, especialmente em Kerala e Tamil Nadu, realiza-se o ritual Vidyarambham, no qual crianças escrevem suas primeiras letras sob a bênção de mestres e sacerdotes, geralmente dentro de templos ou diante de altares familiares. É um dia de novos começos, renovação espiritual e confiança na vitória do dharma.

Curiosidades Fascinantes sobre Dussehra
Ravana é honrado em alguns lugares
Embora Dussehra seja amplamente associado à derrota de Ravana por Rama, certas regiões preservam uma visão muito diferente do rei de Lanka. Em vilarejos do sul da Índia e em partes do Sri Lanka, Ravana é lembrado não como vilão, mas como um devoto ardente de Shiva, um governante sábio e um músico extraordinário do veena. Nessas tradições, sua figura é celebrada por qualidades de coragem, conhecimento e espiritualidade. Essa perspectiva revela a profundidade e a diversidade da cultura indiana, onde um mesmo personagem pode ser visto sob múltiplas luzes — todas carregadas de significado histórico e devocional.
As efigies gigantes podem chegar a 80 metros
As efígies gigantes de Ravana são verdadeiros monumentos temporários, podendo atingir alturas impressionantes que, em algumas regiões, superam 20 a 30 metros — e há registros locais de estruturas experimentais que se aproximaram dos 65 a 75 metros, construídas por comunidades especializadas no norte da Índia. Artesãos passam semanas trabalhando com bambu, madeira, papel machê, tecido colorido e engenharias complexas de fogos de artifício. Cada camada é pintada à mão, decorada com padrões tradicionais e preparada para a espetacular queima pública. O resultado é uma fusão rara de arte popular, engenharia comunitária e espetáculo cultural.

Ramayana alem da Índia
Embora Ayodhya seja o coração espiritual das Ramlilas, a narrativa do Ramayana ultrapassou fronteiras e ganhou novas formas em diversos países do Sudeste Asiático. Na Indonésia, especialmente em Java, o épico é apresentado em performances de dança-teatro como o Wayang Wong e em sombras tradicionais Wayang Kulit. No Camboja, a história é reinterpretada no clássico Reamker, encenado por trupes reais e artistas populares. No território do antigo reino de Champa — hoje parte do Vietnã — versões adaptadas do épico aparecem em esculturas, tradições narrativas e literatura indianizada, refletindo antigas conexões culturais com a Índia

O Dia Preferido Para Comprar Ouro e Bens Valiosos
No Vijayadashami, muitas famílias indianas seguem a crença de que tudo o que é iniciado ou adquirido nesse dia prospera. Por isso, é comum ver pessoas comprando ouro, veículos, eletrodomésticos e até imóveis. As joalherias ficam lotadas, concessionárias fazem promoções especiais e lojas exibem símbolos de boa fortuna. Esse hábito vem da ideia de que Vijayadashami é um dos dias mais auspiciosos do ano, quando a energia positiva da vitória de Durga e Rama abençoa novos começos. Comprar algo importante nesse dia é visto como um convite à prosperidade futura.

Conclusão
Dussehra é, simultaneamente, um festival épico, espiritual e profundamente humano. Ele celebra coragem, fé, disciplina e propósito — lembrando-nos, ano após ano, que mesmo quando a escuridão parece dominante, a luz sempre encontra um caminho.
Mais do que um evento religioso, é um convite para vencermos nossos próprios “Ravanas”, cultivarmos justiça e caminharmos com firmeza e alegria rumo ao bem.
Assim, Dussehra transcende fronteiras: não é apenas um festival da Índia, mas uma mensagem universal sobre renovação, esperança e a vitória do dharma em cada aspecto da vida.
Perguntas Frequentes : Dussehra
Qual é a diferença entre Dussehra e Vijayadashami?
Os dois nomes se referem ao mesmo dia, mas com tradições diferentes. No Norte da Índia, destaca-se Rama derrotando Ravana (Dussehra). No Leste e Sul, celebra-se o triunfo de Durga sobre Mahishasura (Vijayadashami).
Dussehra marca o fim de Navratri?
Sim. Vijayadashami/Dussehra é sempre o décimo dia que encerra o período de nove noites de Navratri, dedicado às formas da Deusa.
Por que Ravana é queimado em Dussehra?
A queima de enormes efigies de Ravana, Kumbhakarna e Meghnath simboliza a destruição do mal e o triunfo do dharma, relembrando a vitória de Rama no Ramayana.
O que acontece durante Vijayadashami em Durga Puja?
Em Bengala e no Leste da Índia, este dia marca o visarjan, a imersão das imagens da Deusa Durga e o encerramento do festival após sua vitória sobre Mahishasura.
Por que Vijayadashami é considerado um dia muito auspicioso?
Porque é visto como um momento ideal para iniciar estudos, novos negócios, aprender música, comprar ouro, veículos ou ferramentas e realizar bênçãos familiares.
O que é Sindoor Khela?
É um ritual bengali no qual mulheres casadas aplicam pó vermelho (sindoor) umas nas outras durante Vijayadashami, simbolizando prosperidade e proteção.
Como o festival é comemorado no Sul da Índia?
Além do Golu — escadarias com bonecos — é comum o ritual Vidyarambham, onde crianças aprendem sua primeira letra no templo, considerado uma iniciação sagrada ao conhecimento.
Estrangeiros costumam confundir Dussehra e Vijayadashami. Por quê?
Porque são celebrados no mesmo dia, mas com histórias diferentes: Rama e Ravana no Norte; Durga e Mahishasura no Leste e Sul. Essa dualidade cria duas narrativas distintas dentro do mesmo festival.
